Google
Uma Baita Jogada: Mais caro que Copa do Mundo

domingo, 13 de abril de 2008

Mais caro que Copa do Mundo

Atlético Paranaense já poderia constar como sinônimo de negócio. Onde há polêmica, onde há novidade, onde há cifras, lá está o CAP. Por ter essa postura inovadora, muitas vezes acaba tendo de carregar o peso de ter apresentado uma grande mudança. Queremos ou não, o futebol brasileiro ainda é de visão predominante retrógrada.

Mas, desta vez, não chegou a ser o pioneiro. Clubes de Santa Catarina impuseram cotas para a transmissão do Estadual deste ano. A disputa está ocorrendo nos tribunais. O Furacão destacou-se mais que os catarinenses devido à sua grandeza.

Foi o fato mais discutido da semana passada. O Clube Atlético Paranaense anunciou que cobrará das emissoras radiofônicas, a partir do Campeonato Brasileiro (incluindo a Copa Sul-Americana), uma taxa de R$ 15 mil por partida. Se a empresa quiser comprar o pacote de 38 jogos da competição nacional, o preço é de R$ 456 mil. Atentem aos “38 jogos”. Isso quer dizer que seja na Arena da Baixada, seja no Maracanã, por exemplo, as rádios terão de pagar para transmitirem as partidas. Quero ver, caso o Furacão enfrente o Boca Juniors na Sul-Americana, o que uma emissora de Buenos Aires acharia disso. Pagar a um visitante. O valor será somente cobrado em caso de transmissões inteiras, não por flashes dos jogos.

Eu até acho que o pagamento é justo. As rádios recebem pelas cotas de publicidade. Ganham e usufruem da infra-estrutura do Clube. Acabam, portanto, lucrando por algo que não pagam ao anfitrião. Mas seria necessário, em minha opinião, haver um debate entre as partes interessadas. Não simplesmente o decreto do Atlético em seu site oficial. Também penso que a cobrança deveria ser feita apenas pelo mandante das partidas. E o principal, o valor da taxa. Vejamos:

Marcelo Ortiz, coordenador de Esportes da Rádio Banda B, afirma que foram pagos US$ 70 mil (aproximadamente R$ 118 mil) pelos direitos de transmissão dos 64 jogos da Copa do Mundo da Alemanha; 1,9 mil reais por jogo. Ou seja, o Furacão quer cobrar das rádios um preço quase oito vezes mais caro que o pago pelas partidas da maior competição de futebol do planeta. Acho que, dentro deste contexto, mil reais já seria um preço elevado.

Como disse, não sou contra a cobrança. O futebol não pode viver apenas das cotas da TV, de venda de jogadores, publicidade e bilheteria. Acredito que outros Clubes tomarão posturas semelhantes daqui a um tempo. Há de se valorizar suas marcas no mercado. O problema é o valor totalmente fora da realidade. Afinal, as emissoras também têm suas despesas, com funcionários, transportes, equipamentos, entre outras. E será que a mercadoria vale todo esse preço? Não ficando apenas no caso do Atlético. Mas no futebol brasileiro como um todo, onde os principais astros saem, rumo à Europa, em pouquíssimo tempo depois de estrearem como profissionais. Temos, sim, as melhores condições de fazermos do Campeonato Brasileiro o melhor do planeta. Mas nos falta organização e maiores investimentos. Acho que ainda não temos capacidade para cobrarmos um valor oito vezes mais caro que uma partida de Copa do Mundo.

Caso ocorra um boicote das rádios, o principal prejudicado será o torcedor do próprio Atlético. O Clube - que transmite suas partidas pela internet, apenas para os sócios - afirma que, caso nenhuma emissora se interesse, alugará espaços em rádios AM e FM para as transmissões de seus jogos. Mas será que é positiva uma narração inteiramente parcial? Ou os responsáveis (contratados pelo Clube) teriam coragem de criticar o time e/ou a Diretoria? Será que não há risco de algumas emissoras optarem por deixar de publicar informações sobre o CAP, em seus noticiários? Ou, então, cobrariam por minuto informado sobre o time? Afinal, também é uma forma de publicidade ao Clube.

E mais: quando o Furacão for atuar pela Copa do Brasil contra um time de uma região extremamente pobre, por exemplo. As emissoras não teriam, provavelmente, condições de arcar com os custos da transmissão. E o torcedor daquele Clube que não tiver condições de ir ao Estádio não poderá acompanhar nem via rádio? Não poderá saber informações sobre sua própria equipe? E os adeptos que vão ao estádio e têm o hábito de levarem o radinho de pilha para ouvirem as emocionantes narrações que este meio oferece teriam de deixar de lado essa característica histórica do futebol?

Isso tudo vai contra o tão comentado e elogiado Marketing Rubro-Negro. Os atleticanos, por seu lado, temem que sua equipe seja vista como antipática pelos outros torcedores brasileiros e pela imprensa nacional.

A Associação Brasileira dos Cronistas Esportivos já tomou partido: divulgou uma nota oficial, na qual diz: “Esquece sua diretoria o trabalho dos Cronistas Esportivos e das emissoras de rádio, do Paraná, que falam dezenas de horas, diariamente, sobre esporte, principalmente de futebol, informando, promovendo e enaltecendo, GRATUITAMENTE, o futebol Paranaense onde é destaque o Clube Atlético Paranaense.”

Espero não ser cobrado por estar falando o nome do Clube Atlético Paranaense. Talvez, eu passe a falar do Furacão como “o Clube de Curitiba que veste vermelho e preto”.


Foto: furacao.com

4 comentários:

Leandrus disse...

Caramba, ótimo texto hein Felipe! Bom, acho que deve haver uma grande conversa entre as 2 partes: do mesmo jeito que os times precisam encontrar novos meios para arrecadar cada vez mais dinheiro, não se pode tomar uma atitude "meio que no impulso", pegando as rádios de surpresa; até porque o Atlético está sozinho nessa iniciativa e é muito fácil para as rádios boicotarem essa iniciativa.

Ateh!

Vinicius Grissi disse...

Até acho justa a cobrança, mas o que o Atlético está fazendo é um absurdo. Primeiro porque o valor de 456 mil reais é muito grande. Segundo, porque cobrar mesmo quando o time joga fora de casa, é errado. E terceiro porque foi feito sem nenhum diálogo com os órgãos e veículos responsáveis.

Daniel Leite disse...

Aí, sou contra. Todos reclamam do monopólio da televisão, no tocante ao futebol. Agora, estão sendo criadas condições para a segregação entre as rádios. Creio que estas devem ter liberdade total e autonomia para transmitir os jogos. Elas são, na essência, prestadoras de serviço a todo o público.

Até mais!

Daniel Leite disse...

Aí, sou contra. Todos reclamam do monopólio da televisão, no tocante ao futebol. Agora, estão sendo criadas condições para a segregação entre as rádios. Creio que estas devem ter liberdade total e autonomia para transmitir os jogos. Elas são, na essência, prestadoras de serviço a todo o público.

Até mais!